Mudando um pouco de assunto, quero falar sobre uma das dificuldades de se empreender no setor do agronegócio, um dos setores que mais cresce em número de startups e grupos de investidores interessados em investir: a financeirização das commodities.
Li este termo a primeira vez em um artigo intitulado A financeirização das commodities agrícolas e o sistema agroalimentar dos autores: Nilson Maciel de Paula; Valéria Faria Santos e Wellington Silva Pereira, publicado em 2015.
É incrível o impacto desta financeirização no preço dos alimentos, que estão cada vez mais caros, deixando as pessoas (principalmente de países pobres) cada vez mais subnutridas e os agentes financeiros especuladores com um pouco mais de dinheiro.
A financeirização das commodities agrícolas pode ser compreendida como a troca de ações mais arriscadas por commodities agrícolas com baixo risco e altos retornos. É compreensível que o investidor queira ganhar dinheiro e se arriscar pouco, porém em alguns casos os investidores deixaram de investir em outros mercados “obrigando” o agronegócio dar tanto ou mais rentabilidade que outras ações exploradas. E o pior: não é o produtor rural que ganha dinheiro, é o investidor especulador que ganha!
Além deste impacto financeiro gerado nas bolsas de valores é sabido que há outros fatores macroeconômicos que impactam diretamente no preço final dos produtos, como por exemplo, o protecionismo de mercados mais desenvolvidos, que se utilizam desta ferramenta justamente para minimizar o impacto da lei básica dos mercados neoliberais: oferta x demanda.
Os autores deste artigo que li, afirmam que esta conjunção poderá causar crises alimentares mais frequentes e problemas com a segurança alimentar da população.
As crises alimentares são óbvias: quanto mais caro o alimento, menos as pessoas mais pobres têm condições de consumir e mais propensas a aceitarem “favores eleitoreiros” elas ficam! Já na questão de segurança alimentar o problema é mais preocupante ainda, pois passa pelo processo de diminuição da qualidade dos alimentos em prol de altos ganhos no futuro.
E diferente de outros produtos ou serviços que podemos deixar de comprar ou substituir, no caso de alimentos é muito diferente. Não dá simplesmente para não comprar ou substituir… Trocar pelo que? Outro alimento?
Pressionar os governos para criarem regras? Legislações que protejam? Já existem tantas regras e legislações que são quebradas diariamente, que talvez esta fosse mais uma “apenas para inglês ver”.
O que fazer então? E se deixássemos a “mão invisível” do mercado fazer seu papel e regular o preço de acordo com a oferta x demanda. Talvez, em alguns meses não compraríamos tomate, porque é entressafra e ele estaria caro, mas poderíamos comprar chuchu, ou cenoura ou outro legume que estivesse no período de safra e que tivesse uma grande oferta no mercado.
De acordo com esta teoria de Adam Smith, não haveria excessos, porque a “mão invisível” faria o auto ajuste e traria a homeostasia para o mercado. Todos ganhariam: produtores, investidores e consumidores.
Então, se há interesse de investidores sérios em investir em startups do agronegócio, que tal olhar para esta dificuldade inerente a este mercado e tentar de alguma forma resolvê-lo? Eu não sei o que e nem como fazer, mas proponho aos especialistas em agro e/ou fintech começarem a pensar em algo…